A mais recente pesquisa do Ibope sobre a sucessão presidencial revela que cerca de 12,5% dos eleitores se apresentam com "duas caras" ao manifestar a intenção de voto. Eles são os que querem eleger a pessoa apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas citam José Serra como seu candidato favorito. Ou os que preferem alguém da oposição, mas se dizem inclinados a votar na petista Dilma Rousseff.
Essas declarações de voto paradoxais e incoerentes revelam um alto nível de desinformação e de desinteresse na eleição, segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope.
O levantamento do instituto, divulgado na última quarta-feira, mostra que a maioria absoluta dos eleitores (53%) quer votar no candidato apoiado por Lula. Mas apenas metade desse contingente aponta Dilma como sua candidata preferida, e um quarto - ou 12% do eleitorado total - cita Serra, ignorando o fato de que ele será o principal nome da oposição na disputa.
São quase 16 milhões de eleitores que, até a eleição, terão de se posicionar de maneira coerente: ou abandonarão o barco governista ou votarão na candidata efetivamente apoiada pelo presidente, conforme sua intenção declarada.
Oposicionistas. No outro extremo, os eleitores que querem um candidato de oposição abrangem 10% do total. Nesse grupo, o nível de desinformação é bem menor: apenas 3% - cerca de 400 mil pessoas - afirmam votar em Dilma e sete em cada dez apontam Serra como seu candidato preferido.
No geral, a pesquisa mostrou o tucano na liderança, com 35% das intenções de voto, e Dilma em segundo, com 30%. Os cruzamentos de dados mostram que a petista é, neste momento, a mais prejudicada pela desinformação dos eleitores, e a que mais tem a ganhar à medida que sua associação com Lula ficar clara para a totalidade da população, afirmou Márcia Cavallari.
"A eleição não está na ordem do dia para grande parte dos brasileiros", disse a diretora do Ibope. "Isso tende a mudar após a Copa do Mundo e, principalmente, com o início do horário eleitoral gratuito." Em pesquisa feita pelo instituto em fevereiro, 47% disseram acompanhar as eleições com "pouco interesse" ou "nenhum interesse".
A maior evidência do nível de desinformação é a pesquisa espontânea, na qual os entrevistados manifestam sua preferência antes de consultar o cartão que traz a lista de candidatos. No início de março, apenas um terço do eleitorado foi capaz de citar um presidenciável que, de fato, está no páreo em 2010. Nada menos que 42% não souberam responder à pergunta sobre seu candidato preferido. E 20% optaram por Lula, que não pode concorrer a um terceiro mandato.
Continuísmo. Bem informados ou não sobre a sucessão, os eleitores não vacilam ao manifestar o que esperam do futuro. Na pesquisa de fevereiro, o Ibope perguntou aos entrevistados se o próximo presidente deve promover muitas ou poucas mudanças no governo. A manifestação por "total continuidade" em relação ao governo atual ficou em primeiro lugar, com 34% das respostas. Outros 29% pediram "poucas mudanças e continuidade para muita coisa". Os que optaram por "muitas mudanças" ou "mudança total no governo" chegaram a 35% dos entrevistados.
Entre os nordestinos, 77% se manifestaram por "total" ou "muita" continuidade. O Nordeste, onde o governo Lula tem seus maiores índices de aprovação, é a única região em que Dilma lidera a corrida presidencial de forma isolada.
A última pesquisa Ibope ouviu 2002 eleitores entre os dias 6 e 10 de março de 2010. O levantamento, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo 5429/2010.
FONTE: O Estadao de S.Paulo. Daniel Bramatti.
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